Chemex ou Pour Over V60? Sim, estamos a falar de café. Esta é a primeira pergunta para a qual têm que se preparar logo à entrada do Booínga – um espaço que privilegia quem vive em Matosinhos e gosta de café. Se são apreciadores, se querem dar os primeiros passos na degustação, se querem aprender mais e explorar esse Novo Mundo do café, este é o lugar ou o spot (se preferirem). O engenheiro Carlos Vieira sabe de café. Desculpem, ele sabe muitíssimo de café (só não digo que sabe tudo, porque há sempre um novo aroma a provar e a degustar) e também sabe receber.

Se procuram um café expresso normalíssimo, indiferenciado – daqueles que se bebe todos os dias e a correr, não é aqui. Aliás, virem costas. Longe. O café merece respeito.
Atenção, também há expresso, não se enganem, e expresso muito bom, que merece ser experimentado, mas há todo um ritual de iniciação quando se entra no Booínga. Um aviso: vai demorar (é uma experiência), por isso vão com tempo. Curiosamente, ao contrário da maioria dos espaços, a demora não é uma crítica, a demora no Boiinga é um estado de espírito, uma forma de estar, onde a conversa sobre café tem lugar e onde o diálogo com o nosso anfitrião é uma constante (uma aprendizagem constante).
A verdade, é que no primeiro momento podemos sentirmo-nos um pouco perdidos. O Booínga não é um espaço ao qual estamos habituados, está entre uma sala de degustação e um showroom de café. De dimensões pequenas, e bem decorado num registo minimalista marcado pelas imponentes máquina de café, a mesa central é para ser partilhada e as que sobram, são na verdade um complemento. Quem tem vergonha não vai entrar. O espírito de partilha e de conversa rapidamente se contamina pela sala. Afinal, quem é que não gosta de dois dedos de conversa?

Se podemos ficar um desconcertados pelo espaço, a pergunta com a qual iniciei este texto, tira-nos o chão. Não sabia o que era uma Chemex, nem uma pour over V60 (não não é um carro), nem sequer as diferenças entre um Etiópia, Quénia ou Colômbia (entre outras origens). Não se preocupem, porque o anfitrião Carlos Vieira não se deixa atemorizar pelo nosso desconhecimento, aliás ele está preparadíssimo e sabe que o seu papel é esse. É este o momento em que o Booínga começa verdadeiramente a fazer a diferença. Não há experiência igual. É único.

Enquanto esperamos, partimos para uma experiência olfativa: sentir o aroma dos grãos de café com ou sem torrefação; absorver as diferentes notas aromáticas dos grãos de diferentes origens. Depois, a inesperada degustação dos shots de café gelado e, claro, a explicação da alquimia (a expressão é minha) da fórmula escrita na parede – que estabelece a perfeita relação entre a quantidade de água relativamente à quantidade de café, e a explicação do ritual de como evitar que o sabor a papel do filtro contamine o café.
Por fim, entre a conversa – ou amena cavaqueira – o café (Etiópia foi a origem) chega à mesa filtrado, o processo escolhido foi o pour over V60 – processo de filtrar diretamente para um copo, feito em cima de uma balança (tem que haver rigor). A prova: entre o cheiro e o sabor, não consigo deixar de me perguntar se estou a degustar um café ou um vinho – não pelo sabor entenda-se, mas pela complexidade, ritual e obrigatória degustação do mesmo.

Então e o expresso? Também não pude resistir, a mesma origem e um sabor mais intenso e igualmente aromático, complexo e prolongado. Para acompanhar, as bolachinhas de aveia e chocolate acrescentaram detalhe a esta prova.
O regresso ao Booínga confirmou tudo aquilo que foi a primeira experiência – a gentileza e sabedoria de Carlos Vieira, aromas novos, descoberta e aprendizagem contínua e… a constatação de que nós portugueses ainda temos muito a aprender sobre a verdade do café.
Para quem gosta da descoberta, de degustar e de café é dos sítios onde apetece ir pelo menos todos os fins-de-semana, só que às vezes simplesmente não tenho tempo (e não vivo em Matosinhos) e, infelizmente, não está aberto aos domingos.
Paulo
Fotografias: www.booinga.com |www.publico.pt| próprias

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