Vamos ser sinceros: quem gosta de verdadeiramente de vinho, quer experimentar, descobrir…Em geral, adora dizer que percebe e também aprecia genuinamente ser surpreendido. Qualquer visita a uma prateleira de supermercado, ou se quiserem, de uma garrafeira, pode ser avassaladora tal a quantidade de opções à nossa disposição. Para quem gosta, ou aprende a gostar, é uma pequena aventura repleta de pequenos passos, ou se preferirem uma aprendizagem.

Foi assim, algures pelo anos de 2014 que nos conhecemos. Esperava-me uma solitária noite a ver um jogo da Liga dos Campeões, sentado no sofá. Descobri-o a pouco mais de 6 euros, numa qualquer promoção perto de mim. Confesso que na altura, uma promoção não tinha as mesmas reticências que tem hoje. Promoção representava uma oportunidade de experimentar, com menor dose de risco. “Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon”, estágio em madeira, reserva…isto é capaz de ser bom”. Uma ótima decisão, tão boa, que ainda hoje acho difícil encontrar um vinho com tão boa relação qualidade/preço. Aliás, uma visita à site Vivino não me deixa mentir. Os comentários são consistentes.
Voltando a essa noite, depois do singelo jantar (do qual honestamente nem sequer me recordo), decido levar comigo o copo de vinho comigo para jantar, até porque um bom jogo de futebol merece companhia. A memória não me atraiçoa quando um “isto é mesmo bom em jeito de auto-diálogo”. Claro que fui à garrafa tirar mais um bocadinho e depois mais um bocadinho e mais um bocadinho….e assim se fez uma ótima noite “à conversa” e a ver futebol. Qual era o jogo, já não me recordo, mas lembro-me do vinho. Sei que depois desta noite, o Quinta da Alorna Reserva é um fiel amigo que gosto de revisitar.
Gosto do equilíbrio e da complexidade e persistência do vinho, que resulta de uma sensação inicial vibrante de fruta, de taninos atrevidos, mas redondos (que não sobressaem), bem conjugada com notas florais e vegetais. Depois um toque mais seco, sentindo a madeira bem integrada no todo. A interação entre as castas resulta muitíssimo bem, é, sem dúvida, uma montra para o que se consegue fazer na região em terras ribatejanas.
Como fiel amigo que é, o Quinta da Alorna Reserva é um vinho que não desilude, seja para beber sozinho, seja para acompanhar um prato de carne, seja para levar para casa de uns amigos que gostam de um bom vinho, mas que não seja daqueles enófilos que estão num nível que só gostam de iguarias muito específicas (ora pelo paladar já trabalhado, ora só fica “bem” gostar de certas e determinadas marcas ou produtores). Também de adapta muito bem, quando temos um jantar de grupo e os nosso amigos ficam incomodados quando se gasta mais de 3 euros num vinho (quanto mais num de 10..) Acreditem que para os menos conhecedores vai surpreender, vai surpreender tanto que se não disserem o preço, acreditarão que pagaram pelo menos uns bons 10 euros (ou mais) pela garrafa. É um vinho que sabe estar em qualquer ocasião.
Como é que isto é possível? O vinho é da região do Tejo, uma região ainda sub-valorizada em termos de mercado quando comparada com outras como Douro ou Alentejo. Em conversa com um dos enólogos da Quinta da Alorna (já agora uma quinta plena de história, com a impressão digital da admirável Marquesa da Alorna), foi-me explicado que o preço do vinho é realmente um pouco mais baixo, para incentivar o consumo e porque a região ainda não tem a notoriedade que merece.
Por isso digo: se gostam de vinho ou se estão na fase de “crescimento” deixem-se de complexos e se virem a este vinho em promoção (chega a ser encontrado a 5,50 euros !), vão por mim, não hesitem. Felizmente, a amizade não tem preço.
Nota: 85
Produtor: Quinta da Alorna
Castas: Touriga Nacional & Cabernet Sauvignon
Estágio em Barricas de Carvalho Francês: 12 meses

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